quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Projeto completo - Terra Una




Prêmio TAC Terra UNA - Residência Artística


Projeto: JARDINS PORTÁTEIS (Performance Instalação)
Autora: Cristina Flores

(…as Flores não passam de órgãos sexuais, vaginas multicoloridas a enfeitar a superfície do mundo, entregues à lubricidade dos insetos.A beleza das Flores é triste porque elas são frágeis e destinadas a morte, como qualquer coisa na terra, claro, mas elas muito especialmente, e, como os animais, seu cadáver não passa de uma grotesca parodia de seu ser vital, e seu cadáver, como o dos animais, fede… Michel Houellebecq)



Cristina Flores começou a pesquisar em 2010 novas formas de interação entre texto, música, performance e estrutura dramática a partir da criação da performance “Tudo é Desse Mundo” fundando o coletivo Barbieeasdores (junto com Gabriel Fomm, Pedro Strasser, Gabriel Alves, Dudu Pires, Ric Paris, João Marcelo Iglesias) que desenvolve uma peculiar forma de show/teatro que proporciona uma experiência libertadora tanto para os artistas quanto para a platéia, quebrando com qualquer formalidade pré-estabelecida dessa relação.
 Em 2012 Cristina deu* prosseguimento a essa pesquisa de forma autoral e quase confessional,  criando seu próprio texto em forma de prosa poética como base para a interação com outras linguagens, desenvolvendo essas performances em eventos de poesia do Rio de Janeiro, nos quais buscava a ampliação das possibilidades de leitura da cena/poesia, criando paisagens imaginárias que nascem da interação do texto poético com a performance, sons, músicas, ambiências e imagens. Como conseqüência  dessa pesquisa nasce a idéia de “Jardins Portáteis”, um ambiente vivo que proporciona ao público uma experiência sensorial completa, com texturas, cheiros e sons - e até mesmo de paladar - redimensionando as palavras e tornando sua interpretação mais livre para o público a partir desta experiência sensorial.
Como Lygia Clark com seus “Objetos Sensoriais”, a intenção é a de desvincular o lugar do espectador dentro da instituição de arte e aproximá-lo de um estado onde o mundo passa a ser constante transformação.


“Se a pessoa, depois de fazer essa série de coisas que eu dou, se ela consegue viver de uma maneira mais livre, usar o corpo de uma maneira mais sensual, se expressar melhor, amar melhor, comer melhor, isso no fundo me interessa muito mais como resultado do que a própria coisa em si que eu proponho a vocês” (Lygia Clark).


 

Instalação







Jardins Portáteis é um encontro de uma variedade de plantas, flores (com seus nomes próprios em placas) dispostas em planos variáveis que possibilitam a criação de diversas paisagens. Nesse ambiente natural transplantado para o espaço duro da galeria, os cheiros, cores e texturas do jardim (do que vive e do que morre), são combinados com o som das palavras, que são sussurradas pelas plantas através de caixas de som com sistemas independentes instaladas nos vasos ou no corpo das plantas, flores e de trilhas musicais e ambiências sonoras. Gramados/cama cortados em tiras do tamanho de um caixão para adultos, convidam o experimentador da obra a deitar-se no jardim e fazer parte da paisagem¡ o objetivo e levar o experimentador a aproximar-se da paisagem, percebê-la nos detalhes - que podem ser destacados por molduras ou luz, criando uma sensação de lente de aumento – e ouvir o que o jardim está lhe dizendo.





“As coisas viram palavras
como impedir que as coisas virem palavras?
copa de 3 arvores são palavras que tiram meu olho dos verdes mentira agora olho 1 verde volto escrevo isso e olho outro verde e se não pudesse colecionar haveria copa mas eu olharia?
ver pra escrever e ao ler ver
um tipo de cegueira
ENXERGAR no ar que respiro nesses ventinhos do meu nariz na ida e na volta que me despertem, amém ...”










Sobre o texto



A poesia ligada a esse projeto traz, a partir da paisagem e de seus movimentos cotidianos, as memórias reais ou imaginárias da autora e também a memória coletiva atravessada por fatos ou percepções comuns deslocados de seus ambientes e tempos naturais para um novo paradigma onde se integram à experiência proposta pela artista. Escrito para ser dito pela própria autora, o texto é criado para que a interpretação complete a informação e a criação dessas imagens e para que o ambiente do jardim, com seus tempos contemplativos, absorva essa paisagem imaginária.



“Sozinha na muretinha
Urca
dois péscadôr ali
contando os baldes
conversas  de gente
passando
algumas palavras
aumentam
de volume
perto
de mim
porque sim
e não porque escolhe ênfase qualquer nada significa
nada nenhum senso estético
os pesca dor jogam linha de novo
reflexo de segurar  a minha
mão na glote sinto fisgadinha que nem peixe
quando adolescente  eu tinha
uma fantasia que eu dei pra mim
(eu acho essa frase tão sexy, vcs não acham? uma fantasia que eu dei
pra mim)
de morte
meu medo de fim
 era o degolamento   de bicicleta por pipa com cerol
quando jogam anzol do meu lado na urca eu POSSO ser fisgada pelo pescoço um rasguinho
e adulta
esvaída sangue ar chuá devagarinho...”

Proposta de Residência



A residência visa:
-     Encontrar os espécimes de plantas, flores mais adequados para a criação da instalação, tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista logístico, de transporte e manutenção dos espécimes em ambiente fechado.
-     Descobrir a partir de novas paisagens, memórias e percepções que ampliem o universo poético da autora
-     Pesquisar idéias que expandam as possibilidades poéticas e estéticas desse jardim.
-     Na interação com a comunidade local somar experiências e pesquisar as possibilidades de interação e a reação do público à obra


“em Copacabana,
preste atenção aos ruídos na rua dela:
folhas flying  firam fissuras flanantes no chão das folhas
vento arrasta folhas pra trás de policia fardado
que atravessa velhinha pro outro lado da rua dela
na rua dela a morte é o que não existe
ninguém nunca foi atropelado lá
nenhum assassinato em casa
nenhum roubo seguido de morte
nenhuma batida de carro
aquelas árvores nunca tinham sido violadas
nem as empregadas domésticas
nenhum estupro
nem pedofilia
um mundo justo
anterior ao pecado
só existia velhinha cruel
das muito más
que manipulam e chantageiam e maltratam e ridicularizam e fofocam e inventam e aumentam e distorcem e sacaneiam o máximo de pobre e preto e neto e neta e nora e genro e filho e filha e são atravessadas
por policia fardado pro outro lado da rua dela
Infelizmente
você lembra
na rua dela não existem atropelamentos.”




Performance




A autora/performer leva para a cena sua prosa poética, que passa de momentos confessionais a crônicas do cotidiano, valendo-se dos recursos lúdicos do Jardins Portáteis, conduzindo o público pelas paisagens imaginárias que brotam das paisagens reais e suas personagens, memórias e projeções. De dentro da cena a performer opera o áudio das flores que contracenam com ela, criando um dialogo da autora com ela mesma através de suas múltiplas vozes. Um coro de flores e Flores.




“ Em troca de um pirulito já levaram uns dentes meus, meus cabelos, sangue.
Já troquei uma juquinha por uma injeção. Eu via muita graça num programa de TV, eu era pequena e uma pessoa ficava com o ouvido tampado e o apresentador falava vc troca uma coxinha de galinha por um carro de formula 1? e a pessoa não, o apresentador vc prefere a coxinha? o surdo sim e o publico desesperado e o surdo excitadissimo sem saber se tava arrasando e tendendo a achar que tava arrasando e a apresentadora e vc troca a coxinha por um mês em Macapá? e a surda sim e a apresentadora e um mês no macapa por um carro de formula 1? e a surda não.. Deus se existisse seria esse apresentador de televisão. Chegou num ponto de medo de Deus existir e ser eu a ter que dar uma surra nele.”







O Jardim

“Desde que dei nome as minhas plantas elas passaram a me interessar mais, porque eu gosto de gente.”

Pequena paisagem viva
– Vasos de flores e plantas (com nomes próprios)
- Araras de diferentes formatos para dependurar os vasos jardins.
- Tapete natural de grama a metro. recortado em camas tamanho de um caixão de adulto.
- Texto. Pré-gravado em dispositivos colocados nas plantas, flores: Inge, Gal, Rosa Baobá, Marrom, Coralina, Pine P e outras que desejo vir a conhecer em Terra Una.
“Exposição Dondina:
MUda de calçada é...
Uma ordem?
 MUda de calçada é...
Moça silenciosa sentada no meio-fio?
MUda de calçada é...
Uma plantinha nova no canteiro?

chovia não ainda não
mas vai chover já já
tá escuro e pesado
e começa a história
na exposição
ontem a gente achou que aquelas mesas mortuárias eram de louça leves
eram brancas e brilhosas como louça de banheiro
mas a moça explica na visita guiada
-que eram de cobre esmaltado
-pesavam toneladas
-tiveram de chamar um engenheiro pra analisar a situação estrutural do andar
para recebê-las e eram duas!
perguntou também
se agora que a gente sabia que eram tão pesadas se a gente via diferente as mesas mortuárias
se agora que a gente sabia que eram tão pesadas se a gente
via diferente as mesas mortuárias
era um jardim ok? Com árvores do sonho
que eu subo correndo por elas e
estão me alcançando e eu

me solto
do último galho batendo os braços eu consigo escapar voando pro alto
árvores frondosas, velhas, muito bonitas.
(pesquisar tipos de árvores pra achar essa minha)”


* Em 2012 Cristina deu... eu acho essa frase tão sexy, vcs não acham? Em 2012 Cristina deu.

NOTÍCIAS DO FRONT


NOTÍCIAS DO FRONT sem Freixo #nuvens sobre o LAGO da carioca# imagens  desmoronamentos Paes 2012
                          olha
depois de muitos dias de chuva
chuva forte chuva fraquinha chuva sempre  pára  volta 
todas as capas de jornal foram capas de chuva  ou servem
           
 boa nova
se hoje é sábado se o sol é médio vai andar
            vô na praia
           um espanto
de dezenas de barracas 
no horizonte
 e o mundo que não acaba
nunca
embora já existam
muitos desses
pombos apocalipticos
em toda parte
dando comigo na areia, vô  
ando na direção do mar
            olha um urubu!
            serão todos urubus?os pombos deram para se parecer com urubus (uma paisagem:
 os pombos deram para se parecer com urubus.
eu acho essa frase tão sexy, vcs não acham?
os pombos deram,
para se parecer com urubus.)
e me lembro dos pombos tão gordinhos deu pequena mãe comigo no LARGO da carioca  
Cinelândia só para gente brincar de dar milho pra pombo 
tinha  'pipoqueiro pra pombo' vendendo  saquinho de milho  dois tamanhos pequeno  grande eu ganhava saquinho pequeno  distribuinte corria (levanto)com eles deles milhares nuvens sobre o LAGO
da carioca
            (páro)uma moça morena um moço muito branco falam numa língua estranha (ação:volto
à minha caminhada)
não é islandês quero que seja sueco  imagino ficar amiga deles e ter outros problemas
 problemas suecos
do Arpo a dor  é até o posto dez
e meio  páro
chego no emissário
submarino e volto
(sento cadeira de novo.)
todos os turistas amanheceram  nus e rosas na praia  de copacabana
nenhuma  tragédia urbana nenhuma
eternos portugueses  eternos
compreendo muito
romântica
oriundo de terra estrangeira não tem dessa vista
e chegam e tudo
destruído morro abaixo
os cartões-postais nostálgicos
uma New Orleans sem furacão
hoje eles estão usando seus melhores sorrisos
querendo demais no meio da gente torço tanto
pra quê
consigamos
uma menininha corre na direção do mar:
--- Jú!
a mamãe chama Jú continua
molha mãozinha beirinha bagunça
mão espalmada
dentrod‘água desiste
volta barraca
a mamãe distraída no jornal
Jú ignorante da mãe de antes atenta nessa alheia
 bate derruba jornal areia
folhas voam
algumas partes
como as do filho do bicheiro que explodiu na Avenidas das Américas com pai dentro d‘ outro carro
de passageiro
no Globo de ontem também outro pai
 na foto com um bombeiro
 choravam
meio abraçados meio recostados um no outro
atrás deles um saquinho com menino de 8 anos dentro cheio de terra  junto dentro do saquinho e do menino
quanto pesava esse saquinho?
as pernas do bombeiro e do pai arqueadas (se apoiavam)
desmoronáveis
como os morros
a queda das pessoas
a terra engolindo as pessoas enterradas vivas
 eu devastada imagina o que faz a esses estrangeiros
que não estão acostumados
em inglês o moço sente saudade de uma garota
que vendia canga no nine
sento e ouço
traduzo
--- Ela morreu de quê?
--- Carioca, you know?
--- Sei.  Mas  soterrada?
--- No.
---  Bala perdida?
Levanto  sigo imagino rachadura no prédio de granada no ônibus leptospirose de falta de atendimento médico de tiro de polícia assalto de atropelada por uma van estresse pós-clonagem de veículo de dentro de casa por ladrão de no trânsito por civil de surf ferroviário falha humana no metrô de influenza dengue de politicagem farra de graça de Paes Eduardo  é de paz? Eduardo posso vigiar teu carro? te pedir trocado? engraxar teu sapato?o carioca tem menos expectativa de vida? alguém já aferiu?
            Venta muito masco o chiclete abro a boca o vento entra goela abaixo sai nariz o vento sobe separa meus cabelos dá pra ver meu crânio branquinho naqueles caminhos de rato que o vento faz na cabeça da gente gosto da sensação de fresquinho
olho pro lado um pombo
venta no pombo tanto quanto em mim o pombo também fica paradinho no vento 
reparo o vento também invade aquela penugem no meio vejo o branquinho do pombo uma carne esquisita de urubu machucado esverdeada venta no pombo o mesmo vento que venta em mim ao saber disso imediatamente meu chiclete adquire gosto de pombo cuspo na mão (vou embora , ação com a mão)
imagino LAGOA
da carioca de tchecov saudade
de antigamente será que vou até lá
moscou fica na Cinelândia?
de metrô nem pensar lotado depois  e se chover
não vai dar para voltar para casa
 inunda LARGO
da carioca
carona
enxergo
carona
balões de nuvens de pombos
adestramento pra pombos um Adestramento para Pombos de Resgate Especial um treino só para Pombos com Especialistas coisa direcionada pombos! me devem isso a mim e ao antigo pipoqueiro pra pombo os Pombos Precisam voltar a ser fortes
bonitos
precisam estar
preparados pra salvar
cariocas perdidos
sem milhos nem esperanças


sem garbo


sem garbo


sozinha na muretinha
urca
dois pescador ali
contando os baldes
conversas  de gente
 passando
 algumas palavras
aumentam
de volume
perto
de mim
 porque sim
e não porque escolhe ênfase qualquer nada significa nada nenhum senso estético
os pesca dor jogam linha de novo
reflexo de segurar  a minha
mão na glote sinto fisgadinha que nem peixe
quando adolescente  eu tinha
uma fantasia que eu dei pra mim 
(eu acho essa frase tão sexy, vcs não acham? uma fantasia que eu dei pra mim?)
de morte
meu medo
de fim era o degolamento  de bicicleta por pipa com cerol quando jogam anzol do meu lado na urca eu POSSO ser fisgada pelo pescoço um rasguinho e adulta
esvaída sangue ar chuá devagarinho 
Coelho !!!
me ocupo me ocupo
o que os volumes das vozes deixarem
pescar pedaços estilhaços das conversas dos outros caídas no meu ouvido naquela urca aberta no meu passeio naquele presente  da gente now
quando der liga, flor esmigalhada ainda rosinha no chão já é lixo? 50 reais e carinho, tenho noção de corpo fiz bale anos,  albergue da juventude turismo de bicicleta pra ser tirada pra dançar senta sozinha na mesa , neide aparecida imunologista  botafogo, bota mel em minha boca me ama depois deixa saudades sera que o amor é isso?e se é feitiço vou jogar flores no mar um raio de luz do sol voltará a brilhar que se apagou,
um panetone não vc me deu todos os panetones que eu comi na minha vida,
a merda que é ser de south park onde existe quem vomita porque tá apaixonado.


as vezes uma corgem enorme me esquece de lado
e durmimos  juntas pé ante pé

cães  farejam
lambem primeiro cizo linguas em ponta
as palavras presas todas há dentes removidas as palavras todas presas há dentes removidas

Esmalte
Dentina
Cavidade pulpar
Gengiva
Mandíbula
Raiz
Vasos sanguineos
Cemento
Membrana periodôntica
Nervo
cheguei
decidi descobrir decorar    
todos meus nomes
pé não vem com psiu
todo detalhe do pé tem nome .

Existiram milhares de pessoas que
Dividiram gente em mil pedacinhos e
deram nomes, todos nomes que temos
corpo.
foram decididos
num acordo
formal
entre partes
me proponho a decorar nossas partes é importante.
desde que dei nome as minhas plantas elas passaram a me interessar mais, porque eu gosto de gente.
eu vou guardar todos os nosso nomes pra te tratar com mais humanidade, Uma paquera, uma considerada,uma serenata.

pôrra eu só me beijava na piscina  quando adolescente
me dava uns pegas de lingua nas costas da mão
com gosto de cloro  mesmo foda-se eu me queria. 
percebo que eu esfriei comigo.

meu teto é cristina titula 
minha sombrinha particular
debaixo
todos nossos nomes comuns
a gente é homônimo
eu sou bi

mil folhas de nomes como se nós fossemos um mil folhas de nomes
o que seria o crème?
aí eu parei pra comer e depois voltei a trabalhar.
isso não é assunto,
isso é fome.
isso não é assunto
isso é inanição
isso não é assunto, isso vc esquece, isso não precisa, isso vc tira, isso nem pensar, isso há, isso nã, isso hum, isso tá, isso vai, isso

aí no minimo abre mais uma
frente de trabalho
posso me apresentar nas faculdades de medicina
antes de virar indigente
e chegar como corpo
posso ir viva e dizer oi sei dizer meus nomes
eu sou uma boneca eva ambulante
você toca no meu pé e eu abro o despenhadeiro

Em troca de um pirulito já levaram uns dentes meus, meus cabelos, sangue
Já troquei uma juquinha por uma injeção, Eu via muita graça num programa de tv eu era pequena e uma pessoa ficava com o ouvido tampado e o apresentador falava vc troca uma coxinha de galinha por um carro de formula 1 e a pessoa não, o apresentador vc prefere a coxinha o surdo sim e o publico desesperado e o surdo excitadissimo sem saber se tava arrasando e tendendo a achar que tava arrasando e a apresentadora e vc troca a coxinha por um mês em macapá e a surda sim e a apresentadora e um mês no macapa por um carro de formula 1 e a surda não.. Deus se existisse seria esse apresentador de televisão. Chegou num ponto de medo de deus existir e ser eu a ter que dar uma surra nele.

Projeto completo - Terra Una


Prêmio TAC Terra UNA - Residência Artística


Projeto: JARDINS PORTÁTEIS (Performance Instalação)
Autora: Cristina Flores

(…as Flores não passam de órgãos sexuais, vaginas multicoloridas a enfeitar a superfície do mundo, entregues à lubricidade dos insetos.A beleza das Flores é triste porque elas são frágeis e destinadas a morte, como qualquer coisa na terra, claro, mas elas muito especialmente, e, como os animais, seu cadáver não passa de uma grotesca parodia de seu ser vital, e seu cadáver, como o dos animais, fede… Michel Houellebecq)



Cristina Flores começou a pesquisar em 2010 novas formas de interação entre texto, música, performance e estrutura dramática a partir da criação da performance “Tudo é Desse Mundo” fundando o coletivo Barbieeasdores (junto com Gabriel Fomm, Pedro Strasser, Gabriel Alves, Dudu Pires, Ric Paris, João Marcelo Iglesias) que desenvolve uma peculiar forma de show/teatro que proporciona uma experiência libertadora tanto para os artistas quanto para a platéia, quebrando com qualquer formalidade pré-estabelecida dessa relação.
 Em 2012 Cristina deu* prosseguimento a essa pesquisa de forma autoral e quase confessional,  criando seu próprio texto em forma de prosa poética como base para a interação com outras linguagens, desenvolvendo essas performances em eventos de poesia do Rio de Janeiro, nos quais buscava a ampliação das possibilidades de leitura da cena/poesia, criando paisagens imaginárias que nascem da interação do texto poético com a performance, sons, músicas, ambiências e imagens. Como conseqüência  dessa pesquisa nasce a idéia de “Jardins Portáteis”, um ambiente vivo que proporciona ao público uma experiência sensorial completa, com texturas, cheiros e sons - e até mesmo de paladar - redimensionando as palavras e tornando sua interpretação mais livre para o público a partir desta experiência sensorial.
Como Lygia Clark com seus “Objetos Sensoriais”, a intenção é a de desvincular o lugar do espectador dentro da instituição de arte e aproximá-lo de um estado onde o mundo passa a ser constante transformação.


“Se a pessoa, depois de fazer essa série de coisas que eu dou, se ela consegue viver de uma maneira mais livre, usar o corpo de uma maneira mais sensual, se expressar melhor, amar melhor, comer melhor, isso no fundo me interessa muito mais como resultado do que a própria coisa em si que eu proponho a vocês” (Lygia Clark).


 

Instalação







Jardins Portáteis é um encontro de uma variedade de plantas, flores (com seus nomes próprios em placas) dispostas em planos variáveis que possibilitam a criação de diversas paisagens. Nesse ambiente natural transplantado para o espaço duro da galeria, os cheiros, cores e texturas do jardim (do que vive e do que morre), são combinados com o som das palavras, que são sussurradas pelas plantas através de caixas de som com sistemas independentes instaladas nos vasos ou no corpo das plantas, flores e de trilhas musicais e ambiências sonoras. Gramados/cama  cortados em tiras do tamanho de um caixão para adultos, convidam o experimentador da obra a deitar-se no jardim e fazer parte da paisagem¡ o objetivo e levar o experimentador a aproximar-se da paisagem, percebê-la nos detalhes - que podem ser destacados por molduras ou luz, criando uma sensação de lente de aumento – e ouvir o que o jardim está lhe dizendo.





“As coisas viram palavras
como impedir que as coisas virem palavras?
copa de 3 arvores são palavras que tiram meu olho dos verdes mentira agora olho 1 verde volto escrevo isso e olho outro verde e se não pudesse colecionar haveria copa mas eu olharia?
ver pra escrever e ao ler ver
um tipo de cegueira
ENXERGAR no ar que respiro nesses ventinhos do meu nariz na ida e na volta que me despertem, amém ...”










Sobre o texto



A poesia ligada a esse projeto traz, a partir da paisagem e de seus movimentos cotidianos, as memórias reais ou imaginárias da autora e também a memória coletiva atravessada por fatos ou percepções comuns deslocados de seus ambientes e tempos naturais para um novo paradigma onde se integram à experiência proposta pela artista. Escrito para ser dito pela própria autora, o texto é criado para que a interpretação complete a informação e a criação dessas imagens e para que o ambiente do jardim, com seus tempos contemplativos, absorva essa paisagem imaginária.



“Sozinha na muretinha
Urca
dois péscadôr ali
contando os baldes
conversas  de gente
passando
algumas palavras
aumentam
de volume
perto
de mim
porque sim
e não porque escolhe ênfase qualquer nada significa
nada nenhum senso estético
os pesca dor jogam linha de novo
reflexo de segurar  a minha
mão na glote sinto fisgadinha que nem peixe
quando adolescente  eu tinha
uma fantasia que eu dei pra mim
(eu acho essa frase tão sexy, vcs não acham? uma fantasia que eu dei
pra mim)
de morte
meu medo de fim
 era o degolamento   de bicicleta por pipa com cerol
quando jogam anzol do meu lado na urca eu POSSO ser fisgada pelo pescoço um rasguinho
e adulta
esvaída sangue ar chuá devagarinho...”

Proposta de Residência



A residência visa:
-     Encontrar os espécimes de plantas, flores mais adequados para a criação da instalação, tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista logístico, de transporte e manutenção dos espécimes em ambiente fechado.
-     Descobrir a partir de novas paisagens, memórias e percepções que ampliem o universo poético da autora
-     Pesquisar idéias que expandam as possibilidades poéticas e estéticas desse jardim.
-     Na interação com a comunidade local somar experiências e pesquisar as possibilidades de interação e a reação do público à obra


“em Copacabana,
preste atenção aos ruídos na rua dela:
folhas flying  firam fissuras flanantes no chão das folhas
vento arrasta folhas pra trás de policia fardado
que atravessa velhinha pro outro lado da rua dela
na rua dela a morte é o que não existe
ninguém nunca foi atropelado lá
nenhum assassinato em casa
nenhum roubo seguido de morte
nenhuma batida de carro
aquelas árvores nunca tinham sido violadas
nem as empregadas domésticas
nenhum estupro
nem pedofilia
um mundo justo
anterior ao pecado
só existia velhinha cruel
das muito más
que manipulam e chantageiam e maltratam e ridicularizam e fofocam e inventam e aumentam e distorcem e sacaneiam o máximo de pobre e preto e neto e neta e nora e genro e filho e filha e são atravessadas
por policia fardado pro outro lado da rua dela
Infelizmente
você lembra
na rua dela não existem atropelamentos.”




Performance




A autora/performer leva para a cena sua prosa poética, que passa de momentos confessionais a crônicas do cotidiano, valendo-se dos recursos lúdicos do Jardins Portáteis, conduzindo o público pelas paisagens imaginárias que brotam das paisagens reais e suas personagens, memórias e projeções. De dentro da cena a performer opera o áudio das flores que contracenam com ela, criando um dialogo da autora com ela mesma através de suas múltiplas vozes. Um coro de flores e Flores.




“ Em troca de um pirulito já levaram uns dentes meus, meus cabelos, sangue.
Já troquei uma juquinha por uma injeção. Eu via muita graça num programa de TV, eu era pequena e uma pessoa ficava com o ouvido tampado e o apresentador falava vc troca uma coxinha de galinha por um carro de formula 1? e a pessoa não, o apresentador vc prefere a coxinha? o surdo sim e o publico desesperado e o surdo excitadissimo sem saber se tava arrasando e tendendo a achar que tava arrasando e a apresentadora e vc troca a coxinha por um mês em Macapá? e a surda sim e a apresentadora e um mês no macapa por um carro de formula 1? e a surda não.. Deus se existisse seria esse apresentador de televisão. Chegou num ponto de medo de Deus existir e ser eu a ter que dar uma surra nele.”







O Jardim

“Desde que dei nome as minhas plantas elas passaram a me interessar mais, porque eu gosto de gente.”

Pequena paisagem viva
– Vasos de flores e plantas (com nomes próprios)
- Araras de diferentes formatos para dependurar os vasos jardins.
- Tapete natural de grama a metro. recortado em camas tamanho de um caixão de adulto.
- Texto. Pré-gravado em dispositivos colocados nas plantas, flores: Inge, Gal, Rosa Baobá, Marrom, Coralina, Pine P e outras que desejo vir a conhecer em Terra Una.

“Exposição Dondina:
MUda de calçada é...
Uma ordem?
 MUda de calçada é...
Moça silenciosa sentada no meio-fio?
MUda de calçada é...
Uma plantinha nova no canteiro?

chovia não ainda não
mas vai chover já já
tá escuro e pesado
e começa a história
na exposição
ontem a gente achou que aquelas mesas mortuárias eram de louça leves
eram brancas e brilhosas como louça de banheiro
mas a moça explica na visita guiada
-que eram de cobre esmaltado
-pesavam toneladas
-tiveram de chamar um engenheiro pra analisar a situação estrutural do andar
para recebê-las e eram duas!
perguntou também
se agora que a gente sabia que eram tão pesadas se a gente via diferente as mesas mortuárias
se agora que a gente sabia que eram tão pesadas se a gente
via diferente as mesas mortuárias
era um jardim ok? Com árvores do sonho
que eu subo correndo por elas e
estão me alcançando e eu

me solto
do último galho batendo os braços eu consigo escapar voando pro alto
árvores frondosas, velhas, muito bonitas.
(pesquisar tipos de árvores pra achar essa minha)”


* Em 2012 Cristina deu... eu acho essa frase tão sexy, vcs não acham? Em 2012 Cristina deu.